Investigação sobre morte de juíza será feita pela Polícia Civil do Rio


Juíza foi assassinada com 21 tiros na porta de casa na madrugada de sexta.
A Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro comunicou no fim da tarde desta sexta-feira (12) que as investigações sobre a morte da juíza Patrícia Acioli, assassinada na porta de casa, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, serão feitas exclusivamente pela Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil. Mais cedo, a Polícia Federal ofereceu ajuda, mas segundo a secretaria, a colaboração não foi necessária. A PF do Rio diz continuar à disposição.
A juíza foi atingida por 21 tiros, afirmou o delegado titular da DH, Felipe Ettore. "A juíza sofreu uma emboscada, foi alvejada por 21 disparos e agora estamos investigando o autor e o mandante da execução", disse. Segundo investigadores, os dois calibres das armas usadas no crime (.40 e .45) são de uso restrito da polícia.
O corpo de Patrícia Acioli foi enterrado na tarde desta sexta. O Disque-Denúncia recebeu 27 informações sobre o assassinato até às 18h30. Segundo a central, a maioria das informações é sobre possíveis autores do crime. O serviço funciona 24 horas por dia e o anonimato é garantido. As denúncias podem ser feitas pelo telefone (21) 2253-1177.
Marcada para morrer
A juíza estava em uma lista de doze pessoas marcadas pra morrer, segundo investigadores. O documento foi encontrado com Wanderson da Silva Tavares, o Gordinho, acusado de ser chefe de uma milícia em São Gonçalo, preso em janeiro deste ano em Guarapari, no Espírito Santo.
De acordo com fontes da polícia, nos últimos dez anos a juíza foi responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 87 juízes estão sob ameaça em todo o Brasil, segundo dados enviados por tribunais estaduais e federais. Mas entre os 13 nomes enviados pelo TJ-RJ, segundo a corregedora do CNJ, Eliana Calmon, não estava a juíza Patrícia Aciolli.
Escolta
Segundo o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, a juíza nunca pediu escolta, mas, por iniciativa do Tribunal, teve proteção intensa de 2002 a 2007, com três policiais fazendo a sua segurança 24 horas por dia.
Em 2007, o Departamento de Segurança Institucional do TJ avaliou o caso e verificou que não havia mais necessidade de segurança intensa. O tribunal colocou, então, à disposição da juíza um policial para fazer sua segurança. Mas, segundo ele, a juíza dispensou a proteção do Tribunal. s e informações.
O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Nelson Calandra, falou sobre o caso. "Esta juíza, ela foi ameçada, andou com escolta e depois que casou com um PM dispensou a escolta. Ela é mulher, tem 3 filhos, andar com agentes é uma situação que pode ter causado incômodo", explicou.
STF e OAB
Em nota oficial, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, classificou como um "ato de barbárie" o assassinato da juíza.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, afirmou que o crime "foi uma barbaridade contra um ser humano e, sobretudo, contra a Justiça brasileira e o Estado de Direito". Ele exigiu rigorosa apuração do crime e punição dos culpados.
'Crime encomendado', diz primo da vítima
Patrícia Acioli era considerada uma profissional 'linha dura'. Para o primo da vítima, Humberto Nascimento, não há dúvidas que se trata de uma execução.
"A Patrícia recebia ameaça. Há pelo menos 5 anos ela vinha sendo ameaçada. Ela era considerada uma juíza linha dura, martelo pesado que chama, com condenação sempre na pena máxima. Ela estava assim tão despreocupada que o carro dela não é blindado, (a casa) também não tem portão eletrônico, quer dizer ela iria sair do carro de qualquer maneira para abrir. Então já era uma coisa encomendada, foi coisa de profissional", diz o primo da vítima, Humberto Nascimento.
Projeto no Congresso
O projeto que cria guarda especializada para a segurança de juízes pode ser colocado em votação na próxima terça-feira (16), de acordo como o relator da proposta, senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O relator disse, porém, que a inclusão na pauta depende de um acordo de líderes.
O projeto que amplia a segurança, reivindicação das associações de magistradoas, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa em dezembro do ano passado. Pela proposta, cada tribunal teria uma guarda própria e os tribunais seriam responsáveis pelo treinamento dos novos servidores.
Enquanto a guarda especializada não é criada, alguns dos magistrados ameaçados de morte contam com uma segurança temporária feita pela Polícia Federal.
Conselho de magistrados
Além de criar a guarda especializada, o projeto que pode ser votado na próxima semana também prevê a criação deum conselho de magistrados que ficaria responsável por julgar processos da área criminal. Segundo Ribeiro, a criação do conselho reduziria a visibilidade do magistrado, dificultando com isso a ação dos criminosos. “Crimes que hoje ficam submetidos a um único juiz ficariam submetidos a um grupo, o que deixaria o juiz mais protegido”, avalia.
Para o juiz federal Wilson Witzel, que já foi ameaçado de morte duas vezes, a segurança especializada para os magistrados poderia evitar casos como o da juíza Patrícia Acioli. “Eu espero que este caso [da juíza] sensibilize os parlamentares. Este não é o primeiro juiz que morre depois de ameaças. Quantos juízes defuntos o Congresso ainda vai velar até que se tome vergonha e combata o crime organizado”, disse o juiz.
G1